Vanda Leci Bueno Gautério[1]
Maria de Fatima Baldez Rodrigues[2]
Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Motivados à ação
A necessidade do trabalho com geometria, as dificuldades comportamentais e de relacionamento de uma turma do 6º ano de uma escola municipal da cidade de Rio Grande/RS, motivaram a realização de um trabalho envolvendo o estudo de conceitos geométricos e uma reflexão sobre valores e atitudes necessários ao convívio em sociedade.
O desenrolar da experiência
Na busca por trabalhar conceitos matemáticos ligados a geometria espacial/plana e diagnosticar os conhecimentos prévios dos alunos, propomos, em um primeiro momento, uma atividade de exploração do espaço escolar, onde a tarefa era identificar o maior número de objetos geométricos possível, fazendo anotações sobre os mesmos.
Em sala de aula, pedimos aos alunos que compartilhassem com a turma as anotações que haviam feito. Durante os relatos, percebemos que alguns alunos tinham concepções equivocadas sobre alguns conceitos geométricos como: plano e espacial, arestas, faces, vértices, simetria, ângulos, além de não saberem o nome de algumas figuras geométricas. Através da discussão, esclarecemos algumas ideias equivocadas, fazendo com que as mesmas fossem modificadas e não acumuladas.
Com os conceitos geométricos básicos, necessários ao que se pretendia trabalhar, construímos sólidos, partindo dos moldes sugeridos pelo Projeto Araribá. Durante a construção dos sólidos os alunos deram atenção especial ao nome dos mesmos e identificaram os conceitos anteriormente discutidos.
Os alunos foram desafiados a tomar como mascotes cada uma das figuras geométricas construídas. No período de uma semana, os mascotes fizeram parte da rotina escolar, os alunos compartilharam com os colegas as propriedades e o nome de seu sólido, propiciando, assim, uma rápida formalização dos conceitos que envolvem as figuras espaciais.
O trabalho tinha como finalidade, também, movimentar as atitudes e valores da turma, para que isso fosse possível as professoras acharam necessária uma discussão sobre a importância dos robôs em nosso mundo e a programação consciente dos mesmos. Os alunos reuniram-se em grupos, por afinidades, onde a tarefa era unir seus sólidos na construção de um robô, que deveria ser simbolicamente programado.
Reflexos da ação
O grupo participou ativo das discussões e chegou à conclusão que os robôs construídos por aquela turma de 6º ano, só trariam benefícios a comunidade, pois suas peças haviam sido cultivadas e mantidas com muito amor. A partir desta reflexão sentimos que a turma realizou um processo de transferência das ações dos robôs para as suas próprias ações. Em uma análise individual, os alunos sentiram a necessidade de reprogramar-se na busca de trazerem mudanças coletivas.
A integração dos alunos mostrou o quanto as atividades desenvolvidas propiciaram o envolvimento dos sujeitos com a ação, permitindo aos mesmos a apropriação dos conceitos geométricos.
Refletindo sobre a experiência
Com este projeto os conceitos matemáticos necessários foram trabalhos. Mas, mais do que isto, foi oportunizado aos alunos descobrirem em si sentimentos que estavam adormecidos ou que até então não haviam sentido. A turma recuperou a autoconfiança e entendeu a importância do respeito, da amizade e de outros sentimentos tanto no conviver com os outros quanto consigo mesmo. O grupo através de novos hábitos e atitudes perdeu o rótulo de “turma problema” e inclusive aumentou as notas em outras disciplinas.
Referências
KAMII, C. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget. São Paulo: Papirus, 1991.
KAMII, C. LIVINGSTON,S.J. Desvendando a aritmética: implicações da teoria de Piaget. Campinas, SP: Papirus, 1995.
PROJETO ARARIBÁ: Matemática/obra coletiva, concebida, desenvolvida e produzida pela editora moderna; editora responsável Juliane Matsubara Barroso. 1ª edição, volume 1. São Paulo: Moderna, 2006.